Um email recebido hoje, com um convite para uma excursão, trouxe à tona uma reflexão sobre um grupo muito comum em viagens deste tipo: as pessoas idosas, principalmente mulheres. Fiquei pensando que os idosos demonstram interesse em dar um novo rumo às suas vidas. Viajar é uma das atividades escolhida por eles, e, uma grande maioria nestas excursões é composta por mulheres idosas.
Percebe-se que mais mulheres que homens assumem esta fase da vida mais intensamente. Elas conseguem se envolver mais facilmente em atividades de clubes, igrejas, universidades, grupos para a terceira idade, excursões e outras atividades direcionadas a este público.
Podemos mesmo afirmar que a conquista da liberdade feminina vem redefinindo o envelhecimento das mulheres, embora ainda tenham de enfrentar desafios em uma sociedade sexista e gerofóbica, que julga a mulher por sua capacidade produtiva, por sua atratividade sexual e física.
A gerofobia, ou discriminação pela idade, que caracteriza uma sociedade orientada para a juventude, estimula preconceitos e estereótipos em relação às pessoas idosas, e, especialmente às mulheres. Sabemos que os homens também sofrem discriminação por idade, porém a mulher idosa é particularmente desvalorizada, não apenas por ser velha, mas também por ser mulher. Esta discriminação à mulher idosa está diretamente ligada ao sexismo, pois insiste na ideia de que as mulheres são reconhecidas e respeitadas apenas enquanto são atrativas e úteis ao homem e à sociedade.
As mulheres idosas têm, comparando-as aos homens, mais necessidade de cuidar da saúde, muitas possuem menos recursos materiais que eles, e uma parcela significativa delas mostra sentimentos negativos com mais frequência. Aliada a estas “desvantagens”, a mulher idosa é considerada menos atrativa e desvalorizada, ao passo que o homem ganha mais prestígio com a idade. Os mesmos cabelos brancos que fazem os homens parecerem charmosos e prestigiados, mostram uma mulher feia e decadente. Estas estruturas sociais que exigem que a mulher seja sempre jovem, bonita e produtiva, isolam as que vão avançando na idade, como se incapazes fossem para participar e contribuir com a sociedade.
Esta é uma realidade cruel para a mulher, que, ao longo de sua vida tem seu valor associado à capacidade de corresponder aos padrões sociais estabelecidos, que reforçam o patriarcado. Esta busca frenética por prolongar a juventude, a beleza e a atratividade mantém muitas mulheres, que ainda não chegaram à meia idade, reféns de um padrão, tornando a proximidade da velhice algo ameaçador e temido.
Felizmente, por um lado, há mulheres idosas que decidem utilizar seu tempo e habilidades de novas formas. Um novo trabalho, uma nova profissão, um novo casamento, um novo curso, ou outras novas perspectivas são escolhas que se apresentam e que elas adotam com energia. Por outro lado, infelizmente, há mulheres idosas que continuam solitárias, ignoradas, à mercê das desigualdades sociais, políticas e econômicas que são impostas a todas as mulheres.
Vivemos em uma sociedade sexista e gerofóbica, que valoriza a juventude, cultua a beleza e enfatiza a importância do homem, e que, consequentemente, discrimina a mulher, especialmente a mulher idosa. É responsabilidade da sociedade dar mais atenção à situação dessas mulheres, a fim de corrigir injustiças na vida delas, de forma que, envelhecer seja algo digno, tanto para homens quanto para mulheres.
Denise Rangel - Professora de Literatura Profª de Literatura e Produtora de Rodas de Leitura; Feminista; Ecoconsciente; Sturm und drang!