PM
Uma pesquisa divulgada anteontem pelo Ministério da Justiça (MJ) apontou que a segurança pública na Paraíba continua a ser um ambiente eminentemente masculino, onde as mulheres representam apenas 8,5% do total de servidores. “Barradas” nos concursos públicos – tendo em vista as cotas ínfimas a elas reservadas, como os 5% da Polícia Militar –, ainda têm que enfrentar um universo que não está preparado para atender suas necessidades, embora a primeira turma paraibana tenha aceitado praças do sexo feminino há 26 anos. Os coletes – sem uma anatomia adaptada ao corpo feminino – e as roupas másculas se juntam aos preconceitos até mesmo na hora de usufruir uma licença-maternidade, garantida por lei.
“É costume ouvirmos o comentário sarcástico dos colegas homens referindo-se às licenças como estorvo para os que estão na escala de plantão ou como uma artimanha para não trabalharmos”, denunciou uma médica legista paraibana ao MJ, na pesquisa “Mulheres na Segurança Pública”. Uma escrivã também descreveu situações constrangedoras enfrentadas por ela. “Quando se fala em equipamento de proteção, muitos dizem ‘para que você quer uma pistola? Fica com um revólver 38’. ‘Por que um colete? Você não sai para operações em que há tiroteio’. Até parece que é preciso uma situação de perigo latente para o uso de equipamento de proteção!”, relatou.
Reflexo estatístico desse quadro pode ser visto através do efetivo total da PM: de 9.698 servidores, apenas 672 (6,93%) são mulheres. A separação se agrava ainda mais, se analisadas as patentes. Quanto mais alta, menos mulheres. Na última delas, a de coronel (ocupada apenas por merecimento), somente duas pessoas são do sexo feminino, entre 40. Uma delas é ocupada pela coronel Socorro Uchoa, hoje gerente de Gestão de Pessoas da PM. “O número é pequeno porque existe uma lei no Estado que regula o ingresso de mulheres na corporação. Nós somos apenas 5%. Se vão entrar mil soldados, são 50 mulheres, mesmo que uma delas possa ter tido uma nota maior que a de um homem”, contou.
A coronel é proveniente da primeira turma de mulheres formada na Paraíba, em 1987. Ela relata que, no começo, havia muita resistência, mas que tem sido superada. “As pioneiras que passaram por um processo probatório. Era como um ‘vamos ver se dá certo mulher na polícia’. Mas, já são 26 anos. A formação do sexo feminino vem acontecendo gradativamente”, destacou.
Soldado realiza sonho de infância
As soldados Pétala Pereira, Sanúbia Cabral e a sargento Nelma Medeiros são exemplos de que, mesmo sendo uma minoria, é possível seguir uma carreira na polícia. Sanúbia, por exemplo, está na PM há 10 anos, realizando um sonho de infância inspirado pelos pais, também militares. Apesar disso, teve que enfrentar preconceitos desde cedo, mesmo fora da corporação. “Fui fazer universidade. Quando ninguém sabia que eu era policial, todo mundo sentava comigo. Quando fui fardada, todo mundo mudou”, lembrou.
A soldado Pétala, que igualmente entrou para a polícia por admirar a carreira, também já se viu tendo que provar ser capaz de exercer a profissão. “Sempre existe aquilo de ‘ah, você é tão branquinha, delicada…’”, lembrou. No caso da sargento Nelma, o interesse partiu do ponto de vista da estabilidade salarial. Uma vez policial, porém, disse ter tido que enfrentar desafios que superam o aspecto psicológico, durante uma operação em uma comunidade carente, na Capital.
“Quando entramos na Bola na Rede, começaram a soltar fogos, para avisar que estávamos lá. Dava pra ver no rosto daquelas pessoas que elas nos odiavam. Eu só pensava no meu filho. Foi um dos dias mais tristes de trabalho, só queria voltar para casa. Quando voltei, só faltei beijar o chão”, contou.
A determinação, contudo, é fator comum às três na hora de enfrentar as dificuldades de ser uma mulher na polícia, como possíveis cantadas de colegas policiais. “Vai depender de como você reagir. Se for necessário, é (preciso) falar com o superior”, contou.
Secretário garante estrutura
O secretário de Segurança e Defesa Social (Seds), Cláudio Lima, negou ontem dados revelados pela pesquisa “Perfil das Instituições de Segurança Pública”, divulgada no dia anterior também pelo MJ. Segundo o documento, a Paraíba teria apenas 2.252 coletes à prova de bala – uma média de 4,31 policiais militares para cada colete – e 5.610 armas de fogo – 1,73 homens para cada. A situação coloca a Paraíba entre os seis piores Estados do País nesse quesito.
O secretário enfatizou, contudo, que os dados não são verdadeiros e estariam desatualizados, fazendo uma garantia: “Temos mais coletes e armas do que policiais civis. Na PM, o número é menor, mas tem arma e colete para cada policial que estiver em serviço”, disse. O secretário destacou ainda que está prevista a compra de carabinas, pistolas, metralhadoras e fuzis para a PC.
Por Correio da Paraíba