Quem disse que foi bom?
É provável que muita tenha se perguntado neste domingo por que Cícero Lucena usou praticamente um programa inteiro do seu Guia Eleitoral na TV pra falar da Operação Confraria em plena reta final do segundo turno.
Como necessidade de expor sua versão sobre o tema, defender sua honra e tentar minimizar o impacto daquele episódio pretérito para sua vida pública presente, Cícero está correto e tem todo direito.
Se o fez, inclusive, é porque deve ter pesquisas indicando a necessidade de fazê-lo. O que por si só já é ruim.
Ora, ser obrigado a tocar neste tema em plena reta final e, principalmente, sem provocação direta do adversário na disputa, é ta ruim quanto provar que não está dirigindo bêbado após derrubar uma garrafa inteira de uísque, tendo que usar o bafômetro.
O próprio texto da agência e a edição da peça são contraditórios. Ora, se Cícero não foi preso, por que a apresentadora fala que o ministro Salvio Figueiredo deu sentença mandato “liberá-lo”? Se Cícero não foi preso, por que ele foi conduzido ao “Centro de Ensino”, como declarou o próprio Gominho? Pra estudar é que não foi.
Depois, e principalmente, porque o vídeo acabou produzindo, certamente, o pior documento da Polícia Federal contra o tucano, a nota da Associação Nacional dos Delegados da Polícia Federal.
A nota é um petardo contra Cícero e sua tentativa de amenizar o assunto. De cara, desmoraliza Gustavo Gominho, um homem que tem décadas de serviços prestados à PF, pois o reduz a uma espécie de falastrão sem legitimidade, arranhão que poderia ter evitado ao concluir sua carreira na instituição.
Mas, especialmente, reafirma que a Operação Confraria foi fruto de um trabalho sério de investigação feito pela instituição e outros órgãos, a exemplo do Ministério Público Federal, afastando o caráter político que se tentou atribuir no Guia à operação.
E pior: anuncia publicamente, como não se foi feito em nenhum momento após quase dez anos do episódio, que Cícero Lucena foi preso sim pela Polícia Federal, conforme aponta a nota ao sugerir que pesou contra ele um mandado judicial de prisão temporária. E que ela foi cumprida à risca.
Ao final, ainda desqualificou a homenagem que o tucano recebeu da PF recentemente.
Caros leitores, nem o pior adversário de Cícero tinha conseguido isso que a nota disse contra ele até agora.
Repito, como necessidade de provar sua inocência, Cícero tem todo o direito de fazer o que fez. Mas não do jeito que fez. Fosse ele, demitiria toda a equipe responsável pelo programa. E ainda exigiria indenização por danos morais pelo fato deles terem estimulado que, doravante, um documento oficial e público seja usado contra o senador.
Abaixo, leia a nota da ADEPF sobre o Guia Eleitoral do PSDB:
A Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal – Diretoria Regional da Paraíba –, com o intuito de aclarar a verdade sobre fatos apresentados à população durante o período eleitoral, vem a público esclarecer o que segue:
- O Dr. Gustavo Gominho não foi a Autoridade Policial responsável pelas investigações que resultaram na Operação Confraria.
- O Tribunal Regional Federal da 5ª Região, em razão das investigações desenvolvidas no bojo do Inquérito Policial nº 289/2005 – SR/DPF/PB, expediu mandados de prisão temporária em face de diversos investigados, dentre os quais o Sr. Cícero Lucena.
- O interrogatório do Sr. Cícero Lucena, decorrente de sua prisão temporária, foi presidido pela Delegada de Polícia Federal responsável pelas investigações, Drª Luciana Paiva, única Autoridade apta a emitir juízos de valor acerca de eventual recusa ou não do então investigado em colaborar com as investigações.
- O Sr. Cícero Lucena não foi transportado para o Centro de Ensino da Polícia Militar no carro particular do Dr. Gustavo Gominho, o que atentaria contra as normas internas do Departamento de Polícia Federal e revelaria tratamento anti-isonômico absolutamente incompatível com a atuação do órgão. Na verdade, o Sr. Cícero Lucena foi conduzido para o local em que ficou custodiado por ordem do Tribunal Regional Federal da 5ª Região em viatura da Polícia Federal descaracterizada.
- A Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal, entidade associativa que congrega a maioria dos Delegados de Polícia Federal do Brasil, não participou de qualquer homenagem ao Sr. Cícero Lucena, e esclarece, ainda, que referida solenidade não teve conotação institucional, ou seja, não se trata de uma homenagem do Departamento de Polícia Federal.
- Por fim, a ADPF/PB lamenta o uso político de um trabalho investigativo estritamente técnico, que resultou em denúncia formulada pelo Ministério Público Federal contra 37 investigados.
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS DELEGADOS DE POLÍCIA FEDERAL
Diretoria Regional da Paraíba
Diretoria Regional da Paraíba
Luís Tôrres
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