Março de 2010 MARCOS ROLIM1)
Conversei com alguns especialistas que me apontaram a droga (álcool,
crack, entre outras) como a principal causa hoje no país de aumento dos
crimes contra pessoa. Gostaria de saber a sua opinião a respeito. Você
também acredita que o aumento da violência urbana está diretamente
ligada a expansão das drogas?
Um dos problemas mais sérios que temos no Brasil na área da segurança
pública é a ausência de uma forte tradição de pesquisas científicas. O que
prevalece, por conta desta lacuna, são as opiniões. Quando tratamos de
políticas públicas de segurança, entretanto, devemos ter muito cuidado com as
opiniões, porque opiniões erradas podem matar. Parece evidente que há uma
correlação entre disseminação do mercado ilegal de drogas e a violência. Há,
pelo menos, dois elementos importantes: tráfico de drogas é um negócio muito
lucrativo que, por decorrência, promove uma série de disputas. Só por isso,
não há tráfico de drogas sem tráfico de armas. Por outro lado, dependentes
químicos sem recursos para comprar drogas costumam roubar. Ambos os
motivos agenciam novos cenários de violência, o que é muito visível, por
exemplo, no caso do crack. Daí a se afirmar que a violência no Brasil é,
basicamente, um problema derivado do tráfico de drogas vai uma determinada
distância. Ainda que tivéssemos evidências suficientes para amparar esta
afirmação, estaríamos diante de várias conclusões possíveis. A pior delas –
porque ingênua e completamente ineficiente – é aquela que afirma que para
enfrentar a violência será preciso derrotar o tráfico com mais repressão. Aliás,
esta ideia termina por funcionar como uma desculpa permanente para aqueles
que não estão dispostos a desenvolver políticas sérias na área. Penso, a
propósito, que devemos aprofundar o debate sobre a legalização do consumo
de drogas no Brasil.
2) Como resolver este problema? Por onde devemos começar?
“atalhos” que devem ser evitados. Primeiro, é preciso lembrar que o Brasil não
tem um problema de violência, mas vários. Há a violência de rua, disseminada
nos grandes centros urbanos e que tem banalizado os crimes patrimoniais; há
a violência doméstica, que vitima centenas de milhares de mulheres e crianças;
há a violência na escola e as práticas de bullying que seguem invisíveis; há a
violência do preconceito racial, da homofobia, a violência contra os idosos e a
violência contra os pobres; há a violência praticada pelo Estado, a começar
pelas condições aviltantes de nossas prisões e pela própria violência policial.
No mais, em cada cidade, em cada região, há dinâmicas específicas de
violência que precisam ser conhecidas. Sem isso, estaremos tratando um
fenômeno que é, por definição, complexo, como se ele fosse algo homogêneo e simples. Então, a primeira exigência para uma política de segurança é a
produção de um diagnóstico competente, o que exige o recurso de pesquisas
de vitimização e estudos de perfil de homicídio, para começar. Sem isso,
seguiremos no terreno da improvisação e das respostas reativas. É preciso não
tomar o “atalho” tradicional dos gestores que imaginam que segurança pública
é o mesmo que efetuar prisões. Nunca na história do Brasil se prendeu tanto e
os resultados são, como se sabe, precaríssimos. Na maioria das vezes, a
dinâmica de encarceramento em massa que temos praticado termina por ser
extremamente funcional à reprodução ampliada do crime. Seja porque
agenciamos novas oportunidades delituosas nas cadeias, seja porque
condenamos os egressos do sistema penitenciário à marginalização, como que
os “empurrando” de volta ao crime.
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