segunda-feira, 8 de julho de 2013

JOÃO PESSOA PRECISA DE UMA MOBILIDADE SUSTENTÁVEL


JOÃO PESSOA, precisa:


De uma  mobilidade urbana que  demande calçadas

 confortáveis, niveladas, sem buracos e obstáculos, porque

 um terço das viagens realizadas nas cidades brasileiras é 

feita a pé ou em cadeiras de rodas.


Pobres pedestres



A Prefeitura vem estreitando o canteiro central da Epitácio Pessoa para afrouxar, com uma nesga a mais, o espaço do automóvel. O automóvel é soberano, prioridade das prioridades. Mais do que transporte é um complemento da personalidade. Muitas vezes bem mais do que complemento. À falta de outros destaques é a personalidade mesma. Sente-se isso no estrondo da buzina, no estardalhaço, na ostentação do próprio carro. Há deles, numa Paraíba de maioria esmulambada, que custam R$ 180, duzentos mil. O sujeito não tem com que se impor e se impõe pelo carro. Realiza-se nele, desce soberbo, cumprimenta de cima, tudo o mais lá embaixo.
Sob o signo dessa valorização é que a Prefeitura cede o espaço do homem, já tão penalizado pela péssima qualidade das calçadas, para favorecer o mérito motorizado. 
A Beira Rio, a segunda avenida em tráfego de elite, não tem espaço para pedestre. Pedestre é um vocábulo associado ao tráfego e dissociado da condição humana. Pedestre, como está escrito aí, é uma peça isolada sem nexo de sujeito ou predicado. Na cabeça dos planejadores ele, o pedestre, não conta. 
Outro dia tentei reproduzir um momento em que mãe e filho se debatiam sob a chuva de um fim de tarde para penar a pé a volta da escola para casa, na Beira Rio. A casa desses dois certamente não tinha garagem, devia ficar naquela ladeira após o hospital da Unimed, onde a Torre perde o nome e os moradores o olfato, permanentemente intoxicados pela fedentina exalada por um processador de esgoto ali localizado. 
Comovia ou revoltava o desconforto, a insegurança de mãe e filho, pendurados na sombrinha, sem terem onde pisar,onde se firmar de uma passada a outra. Pelo asfalto, acostados ao meio fio, os carros e as motos não davam trégua. Tinham de vir pelo atoleiro do canteiro central, afundando a cada buraco, tropeçando a cada barranco.
Senhor Deus dos desgraçados! Será essa a “qualidade de vida” que não cessa nos discursos e projetos oficiais? 
Uma vez, coisa rara, me senti importante, ouvido ou lido e anotado. A Tancredo Neves não oferecia calçada, o pedestre tinha de se expor no leito da rua ou subir pelas paredes e barreiras em vários trechos. Reclamei num escrito e o prefeito Wilson Braga não se fez de rogado. Ninguém precisou queimar pneu e parar o trânsito. A paciência do povo ainda não havia encontrado um meio novo e livre para chegar à temperatura de hoje.
GonzagaRodrigues


Jornal da Paraíba
07.07.2013

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