domingo, 25 de novembro de 2012

Mulheres idosas são as principais vítimas de violência


Mulheres idosas são as principais vítimas de violência

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"A violência intrafamiliar acontece em todas as classes sociais, e não são apenas os mais pobres que enfrentam o problema. As famílias que possuem vínculos afetivos mais fracos são as que possuem os maiores índices de violência", destacou a pesquisadora do Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde Jorge Carelli (Claves/ENSP/Fiocruz) Edinilsa Ramos durante o painel Enfrentamento da Violência Intrafamiliar, realizado no 10º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva (Abrascão 2012). A mesa contou também com a participação da professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Stela Meneguel e da representante da Área Técnica de Saúde da Criança e do Adolescente do Ministério da Saúde, Gilvani Pereira Granjeiro. A atividade, coordenada também por Edinilsa Ramos, debateu a violência contra mulheres, idosos e as ações do Ministério para combater essas práticas.


A pesquisadora da ENSP abordou alguns estudos sobre violência desenvolvidos pelo Claves/ENSP e priorizou os casos contra a pessoa idosa. Segundo ela, essas situações estão de forma diretamente relacionadas à família. “Considera-se abuso contra idosos qualquer relação que cause danos ou omissões a respeito deles”, explicou. No âmbito da saúde pública, em específico no Brasil, o tema ganhou visibilidade na década de 1990, quando a preocupação com a qualidade de vida do idoso entrou na Agenda da Saúde Pública. Porém, de acordo com Edinilsa, somente em 2003, 13 anos após a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente, a notificação de casos de violência contra idosos passou a ser compulsória com a criação do Estatuto do Idoso. 

A pesquisadora apresentou algumas características da violência contra a pessoa idosa, entre elas, maus-tratos físicos e psicológicos, abuso financeiro ou material, abuso sexual, negligência, abandono, além do autoabandono e da autonegligência. Ela expôs também alguns dados sobre os impactos da violência contra os idosos em 2010 no Brasil, quando 23.423 idosos morreram por acidentes e violências, o que significa uma média de 64 óbitos por dia. Os homens representam a maioria nas taxas de mortalidade, sendo 62,5%. De 2000 a 2010, o risco de um idoso morrer por violência e acidentes cresceu 23%, sendo 17,6% entre os homens e 34,8% entre as mulheres. “A população de pessoas idosas do sexo feminino é muito maior que a masculina, e estudos apontam que os homens morrem mais cedo.” 

No âmbito das internações, Edinilsa apontou que, em 2012, no Brasil, foram internados 160.781 idosos por acidentes e violências. Nesse caso, os homens representam 46,1% e as mulheres 53,9%. “A relação dos acidentes por queda está intimamente ligada a situações de violência, pois, na maioria das vezes, esses idosos chegam à internação por causa de algum tipo de violência”. Em seguida, a violência intrafamiliar, entendida como violência doméstica, também foi abordada pela pesquisadora. De acordo com ela, esse tipo de prática dentro do lar, nas interações entre pai, mãe, filhos e parentes não deve ser considerada natural. “Cerca de 90% dos casos de violência ocorrem no seio da família e 2/3 dos agressores envolvidos nesses casos são cônjuges e filhos. Há forte associação nos casos em que o agressor físico e emocional usa drogas, aumentando em três vezes a incidência de violência”, observou.


Por fim, a pesquisadora descreveu alguns fatores de risco da violência contra a pessoa idosa, como problemas de saúde, relação com a família e o cuidador, além de questões sociais e ambientais. Falta de esperança, alienação, desordem pós-traumática, sentimentos de culpa e negação da violência foram definidos como consequência dos maus-tratos. “Cuidar é mais que um ato de atenção, é zelo. Representa uma atitude de ocupação, preocupação e responsabilidade, e de envolvimento afetivo com o outro”, destacou. No âmbito da saúde, o cuidado está relacionado à prática humanizada e integral, articulada com um conjunto de princípios e estratégias que devem nortear a relação entre o paciente e o profissional de saúde. 

Capacitação de profissionais para cuidado com pessoas em situação de violência

Para falar sobre a parte prática da situação de violência, ou seja, como os profissionais devem atuar no trabalho destinado a pessoas que sofrem maus-tratos, a representante da Área Técnica de Saúde da Criança e do Adolescente do Ministério da Saúde, Gilvani Pereira Granjeiro, apresentou o projeto de capacitação de profissionais de saúde para implementar a linha de cuidado para a atenção integral à saúde de crianças e adolescentes e suas famílias em situação de violência. A capacitação ocorreu de setembro de 2011 a abril de 2012 e contou com cerca de 950 facilitadores e multiplicadores. O objetivo da ação foi capacitar profissionais de saúde e áreas afins na estratégia da linha do cuidado. 

Gilvani destacou que, tanto na capacitação realizada com facilitadores, quanto na realizada com multiplicadores, a maior parte do grupo é do sexo feminino e atua nas áreas de assistência social e enfermagem. “Os resultados colhidos nas avaliações deixam visível o processo de amadurecimento dos estados e municípios no âmbito da temática da gestão da violência, bem como o desejo de ver a linha do cuidado implantada de maneira a garantir a atenção integral da criança, adolescente e suas famílias sem situação de violência.” Por fim a representante afirmou que, embora os resultados das avaliações realizadas durante a capacitação tenham sido positivos, não se trata de um processo conclusivo, pelo contrário, inicia a necessidade da remodelagem de práticas no atendimento e a mudança de atitude na gestão dos processos de trabalho.


Encerrando a atividade, a médica sanitarista e professora da graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Stela Meneguel, relatou sua experiência de trabalho com os Grupos. Trata-se de espaços de conversa entre pessoas que vivem a mesma situação. Stela trabalha com diversos Grupos, mas priorizou em sua apresentação o Grupo de Mulheres que enfrentam situação de violência. De acordo com ela, os Grupos trabalham de maneira simples, organizando encontros e utilizando técnicas básicas para que os participantes sintam-se à vontade para expor seus traumas. 

Contando histórias que as mulheres relataram durante os Grupos, Stela apontou que o cabelo é visto como um indicador de saúde das mulheres, pois foi observado em diversos Grupos que, à medida que as mulheres iam se sentindo mais confiantes e melhor, a primeira coisa que elas mudavam eram os cabelos. Outro ponto abordado pela professora é a questão do estigma nos grupos, como algo que não pode existir para que as pessoas frequentem as atividades. “Os Grupos tem uma potencialidade muito grande, não são a solução de todos os problemas, mas, na coletividade, é possível se construir a resistência”, finalizou.
http://www.ensp.fiocruz.br/portal-ensp/informe/site/materia/detalhe/31463

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